A rua me chamou me chamou para lutar!!!

Capoeira me chama...


 E eu me indago:  Qual o nosso papel frente as consequências de todo mal que nos encurrala e qual a nossa real?
   

Decido atender ao chamado: ...
Entro na roda sem medo, com malicia e segredo pronto pra me defender.
Mas antes faço um pedido, peço que mande os Alabês da Bahia toda tocar um toque de guerra, pois essa é nossa constatação e consciência, frente a tudo que vem acontecendo. E dentro do meu pedido exijo para tocar alto, muito alto.
Mundano
Diante desse chamado, reflito que não posso ignorar tudo o que está em volta e me lembro de tudo que passou nas guerras e insurgências, não esqueço das táticas e o que significa uma guerra. Imediatamente me vem uma lembrança ancestral que me toma em arrepios de corpo inteiro, mas não é medo. Meu olhar traduzia o reflexo do meu suspense, e os guerrilheiros perceberam onde estava a minha lembrança.

Mais uma vez fiz um pedido, dessa vez para conclamar o exército que morava dentro mim, dentro do meu inconsciente, na minha memória ancestral. E pedi para avisar as nossas conselheiras, pois precisávamos ritualizar nosso ato com conselhos, vieram e trouxeram peixes e muitos peixes, muitas iguarias e bebidas vieram celebrar o nosso ato, muitas folhas, comidas e vinhos. Enfim, produziram um banquete inigualável, era uma fonte de energia que faziam juntarmo-nos.
Acme
De repente, o cenário nos mostrou que estávamos aglutinando tudo o que era nosso, todas as cores, todos os elementos mais simbólicos, todas as músicas, todas as vibrações, os sons, a epiderme, a garra, a resistência, o fenótipo e até nossas angustias como se tivéssemos em terras estrangeiras e desejássemos voltar pra o seio da nossa casa ou nossa terra
E mudamos a direção do nosso olhar para aquilo que deveríamos lutar efetivamente. Foi o dia em que descobrimos de forma aquilombada e afro centrada onde e consciente  contra quem deveríamos lutar.
Antes de toda batalha conselheiras produziram uma imensa fogueira, e iniciavam um ritual com todas as ervas cheirosas e imediatamente estávamos todos envolvidos em um círculo, enquanto as chamas da fogueira produziam todos os formatos mais glamorosos, parecendo o rosto dos nossos ancestrais que lideraram várias insurgências contra opressão em séculos passados.

O nosso aquilombamento durou muitas noites e muitos dias, enxergamos a presença da lua em várias facetas a querer testemunhar aquela aglutinação, sentimos a presença do vento a dialogar com o fogo daquela fogueira viva que insistia em permanecer conosco como se tivesse protegendo com um senso de justiça a possibilidade de uma trágica situação. Os dias foram passando e Rezamos, choramos, comemos, cantamos, meditamos e nos tocamos, tudo em um ambiente que antes era hostil e dilacerante, uma atmosfera que era adversa e dilacerante, uma paisagem que doía os olhos e asfixiava a garganta como uma poeira triste e sombria

O tempo passou sem a nossa percepção e o que precisávamos como técnica de sobrevivência havíamos adquirido com nós mesmo, iniciamos novas táticas, novas experiências por meios de olhares e saberes distintos nesse universo que era único, mas que havia durado muito tempo, contudo o necessário para curar nossas chagas, nossas dores e a nossa livre manifestação
Mudamos juntos todos os comandos que antes poderiam ter nos destruído e produzimos uma imensa arte coletiva com os capoeiras, os sambistas, as quituteiras, os hapers, os militantes, os poetas, os grios, os marisqueiros, pescadores, batuqueiros, prostitutas, meninos e meninas de rua, mendingos, salteadores e produzimos um recado em forma de discurso:
GRAFITEIROS saem sem medo da violência, pois sabemos que todos os dias de pintura são assim, saímos com a sacola cheia de coloridos, cheio de novos horizontes, novas possibilidades e encontramos fuzis sobre nossa cara. Mas entendemos que mesmo que violente nossos corpos, que nos xinguem, matem nossos irmão iremos lamentar de forma veemente, organizada e aquilombada a perda que a cidade terá sem nossas inspirações, sem nosso brilho e nossa arte.
Não podemos permitir aos opressores, prepotentes e racistas conduzirem as nossas vidas, pois somos um número bem maior de insurgentes. Nós temos tudo o que é necessário para elevar os nossos valores mais fortes.

 fotos do painel do graffiteiro Acme rj performance algum um muro vale uma vida? segue video.


Video  performae Acme Rj

Nós vamos revidar a cada violência, a cada investida mais perversa contra nós, vamos agredir quem nos agride, vamos usar as nossas maiores ferramentas, vamos convocar tudo o que temos reunido contra o sistema que nos invisibiliza, pois não vamos deixar de buscar a nossa arma mais potente, ‘’ uma parede abandonada e uma lata de tinta na mão’’.
Se acontecer o pior será sempre uma injustiça contra a cidade, um crime contra os admiradores da arte, o pior pode vir de várias maneiras nós sabemos mais não vamos temer. Pinte a nossa cara, rasgue a nossa pele como animal salivando ao bater no menino que pinta, nos vimos a sua pouca humanidade com pena, pois somos orgânicos e não acabaremos assim fácil. Aliás, impossível acabar com algo em MOVIMENTO.

quem tiver do nosso lado: NÃO CONTE A NINGUÉM DAS NOSSAS FRAQUEZAS, NEM O DIA DO ATAQUE E NÃO DIGA A NINGUÉM QUE ESTAMOS PREPARADOS/AS
Pai aqui não vê bicho com nada, pois brincadeira tem hora pra jogar


 Texto escrito por Dhay borges & Julio costa


 Homenagem a Lulu, menina que faleceu uma semana antes do graffiti, vítima de violência.


Vamos relembrar de como foi o festival Bahia de Todas as Cores?
Dá um saque no vídeo sobre a sexta-feira, o dia em que ocorreu um mutirão de graffiti na Escola Antônio Balbino, em Madre de Deus. Os artistas Julio, Pipino e Trigo prestaram homenagens à aluna Lulu, que teve sua vida ceifada pela violência e deixou muitas saudades. Mas a arte ajudou a eternizar essa jovem tão querida por todos em seu bairro! A pintura contou com a participação de alguns estudantes amigos de Lulu.


As imagens são de Arivaldo Publio Photografy e Edvaldu Neto.






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