Entrevista com Vinicius Vidal

Graffiti baiano tem seus grandes artistas reconhecidos nacionalmente e internacionalmente. Hoje esse cenário deStreet Art do estado da Bahia tem várias estrelas que saem todos os dias de suas casas pra brilho nas ruas, vielas, becos, escadarias que estão no esquecimento da sociedade. A cada tinta que sai do spray e passa pra parede é um brilho dessa estrela que irá mudar o contexto daquela comunidade e das pessoas que moram ou transitam. Com isso damos início a uma série de entrevistas com essas estrelas. E nossa primeira estrela a ser entrevista é o graffiteiro e designer Vinicius Vidal(Vidal).
Vinícius Vidal, 29, baiano, natural de Salvador, faz parte da equipe de graffiti SubMundo Crew desde sua fundação em 2002, além das crews nacionais, União Nacional Crew (UNC) e Academia Brasileira de Vetor (ABV), essa fundada no final de 2015 juntamente com alguns amigos que se especializaram nos graffitis com traços vetorizados.
Participou de vários eventos, em algumas cidades da Bahia e em outros estados, tais como Recife, São Paulo, Aracaju, Rio de Janeiro e Curitiba, Participou também do Meeting of Styles em Wiesbaden na Alemanha, além de pintar em algumas cidades Alemãs como Berlin, Frankfurt, Mainz e num encontro internacional de graffiti e fotografia em Paris/França, com vários grandes artistas da Europa.
Dono de um estilo próprio, é fácil reconhecer seus trabalhos através dos traços, formas e cores. Segue em atividade pelas ruas de Salvador.
ENTREVISTA COM VIDAL
1) Nome,idade,classe,raça?
Vinícius Vidal da Cruz (VIDAL), 29 anos, classe média baixa, pele parda.
2) Porque resolveu colocar esse vulgo?
Por causa do meu sobrenome no qual tenho muito respeito, pois todos chamavam meu irmão mais velho de Vidal, eu era o vidalzinho. meu irmão era bastante respeitado no meio em que andava, tinha orgulho e admiração por ele, e achava um nome muito forte, daí, fui incentivado por meu amigo Notem a assinar o nome Vidal.
3) Desde que ano começou a graffitar a rua?
Comecei a pintar em 1998, primeiramente nas paredes da escola onde estudava, em pouco tempo já estava ganhando as ruas.
4) Que motivo fez buscar o graffiti?
Na época do colégio, eu era o mais novo da turma, tinha que buscar respeito entre os demais alunos e pivetes que sempre invadiam a escola, pois escola na periferia sempre rola treta. A pixação e a cultura Hip Hop estava em bastante evidencia, o Rap era um som que demonstrava muita atitude e rebeldia, todos que admiravam o Hip Hop, faziam pixação, então era um caminho interessante, sempre gostei de desenhar e a pixação foi um meio de me diferenciar e me destacar entre os demais, comecei a desenhar nas paredes do colégio junto com minha equipe MPS (Movimento dos Pixadores Secretos) que depois de algum tempo viera se chamar "Marginalizados Pela Sociedade", logo depois descobri que estava mais no caminho do graffiti do que na pixação, pois a estética dos meus desenhos eram bem características dos graffitis da época, desde então o graffiti virou meu estilo de vida.
5) Assina qual crew? Qual o significado?
SMC - Sub Mundo Crew
UNC - União Nacional Crew
ABV - Academia Brasileira de Vetor
6) Como você vê a cena do graffiti na Bahia?
Na minha opinião, passou por duas fases. Durante de um momento de descobertas de técnicas, materiais, conceitos etc. todos tinham uma sede imensa de mostrar seus trabalhos nas ruas, divulgar seu nome e sua crew, numa época em que não tínhamos acesso a meios de comunicação que pudesse facilitar nossas redes sociais, nossas reuniões eram sempre presenciais, nossos trabalhos eram vistos somente por quem percorresse pela cidade.
A segunda fase se deu com o advento das redes sociais por meio do acesso fácil e rápido através da internet, houve uma facilidade de nos encontrarmos e fazermos mais reuniões, essas reuniões se transformaram em mutirões de graffiti, nesse novo período os graffiteiros passaram por diversas experiências, muitos formaram família, se tornaram pais e mães e as responsabilidades aumentaram dentro de casa. O poder público, por sua vez, que sempre marginalizou a arte do graffiti, cria barreiras para reprimir o graffiteiro, logo, a nova geração de graffiteiros, encontrou nos eventos de graffiti um meio mais seguro de mostrar seu trabalho, tornando uma cultura bastante diferente das épocas anteriores, quando se tinha mais atitude de pintar na rua de forma independente.
7) Qual seu estilo?

Durante toda minha caminha da no graffiti, passei por diversos estilos, experimentei bastante, sou até hoje um apaixonado por letras, experimentei o estilo piece, wildstyle, 3D, fiz muito throw up quando fazia bombardeio pela cidade, mas atualmente adquiri o estilo vetor, no qual, possui formas e traços com cores uniformes.
8) Você acredita que ainda tem barreira na rua pra graffitar?
Em 2016, ano em que estamos, existe muita barreira e está cada dia mais perigoso graffitar na rua, pois a prefeitura em questão aderiu a Guarda Municipal, na minha opinião, um órgão totalmente imaturo que não sabe exatamente exercer sua competência, acredito que por questões pessoais do seu comando, a GM, oprime o graffiteiro e seu direito de se expressar, agindo com extrema truculência na maioria dos casos de abordagens. Tanta imaturidade e ainda com porte de arma de fogo, imagina tamanha destruição.
9) Você já consegue viver plenamente do graffiti?

Um dia pensei em viver de graffiti, através de trabalhos comerciais, mas eu descobri que na Bahia é muito difícil ter uma vida de qualidade trabalhando com graffiti, por isso busquei alternativas para ter um emprego que me pagasse um salário relativamente bem no sentido de que me permitisse subsidiar o graffiti. Atualmente sou designer gráfico numa empresa de grande porte que presta serviço a indústria e ao governo federal.
10) Desde que começou a graffitar até agora o que mudou e continua mandando no graffiti baiano?
O reconhecimento do graffiti baiano foi o que mudou e melhorou significamente, pois somos bem recebidos e bastante cogitados em festivais no Brasil e no Exterior.
11) Quais benefícios e o que graffiti proporcionou pra sua vida?
O graffiti é hoje meu estilo de vida, me proporcionou viagens para outros estados do Brasil além de França e Alemanha, me proporcionou muita amizade e muito reconhecimento e respeito na arte.
12) O que você tem pra dizer pra sociedade sobre o graffiti?